Em todo o mundo existe um apelo para que as pessoas fiquem em casa para reduzir a transmissão da Covid-19 e, consequentemente, tentar controlar a propagação da doença com o distanciamento social, isolamento domiciliar de pessoas infectadas e de seus familiares. Por outro lado, os profissionais de saúde diariamente enfrentam as suas jornadas de trabalho, correndo riscos de contaminação, tornando-se uma população alvo para a doença. Segundo a OMS os perigos incluem além da exposição ao vírus, as longas horas de trabalho, com fadiga e sofrimento psicológico nas decisões difíceis de triagem e a dor de perder pacientes e colegas.
Uma recente publicação no Lancet relata que a Comissão Nacional de Saúde da China mostrou que mais de 3.300 profissionais de saúde foram infectados até início de março e, de acordo com a mídia local, até o final de fevereiro pelo menos 22 haviam morrido. Na Itália, 20% dos profissionais de saúde foram infectados e alguns morreram.Em um hospital da Califórnia (EUA), 7% dos profissionais com sintomas da doença estavam infectados após contato com um paciente que foi confirmado, mas sem suspeição da doença nos seus primeiros dias da hospitalização.
O Grupo Hospitalar Conceição, por ser um hospital de referência para o atendimento da doença, iniciou em janeiro a preparação para o enfrentamento destas consequências da Covid-19 em profissionais de saúde. A estratégia incluiu a garantia dos equipamentos de proteção necessários e treinamentos para o seu uso apropriado, a instalação de um Centro de Triagem para atendimento clínico dos profissionais de saúde com síndrome gripal, bem como a aquisição de testes rápidos e de biologia molecular para a garantia do diagnóstico. Para uma ação coordenada, houve a criação de um Grupo de Trabalho de Monitoramento dos profissionais de saúde do GHC cujo objetivo principal é reduzir a transmissibilidade da doença no hospital e atenção integral a eles. Logo após a detecção de um profissional de saúde confirmado para a Covid-19, é iniciada uma avaliação epidemiológica de contatos dos casos confirmados e, se há indicação, conforme o risco de exposição, estes profissionais contatos são testados, mesmo assintomáticos.
Desde o início da transmissão comunitária em todo o Brasil em 20 de março, tornou-se difícil estabelecer se a fonte de infecção dos profissionais foi no hospital ou na comunidade. Em 20 de março, foi notificado o primeiro caso confirmado em profissional do GHC. No dia 22 de maio, o GHC contabilizou 100 profissionais da saúde infectados com a Covid-19, o que representa 1,0% em relação ao total de 9.571 profissionais do GHC. Entre os funcionários do Hospital Conceição, houve 1,8% de confirmados (94/5.138), uma taxa pouco abaixo da divulgada pelo Hospital Albert Einstein, onde 2% foram diagnosticados com a doença. O perfil destes profissionais confirmados do GHC demonstrou que 67% são mulheres, 35% na faixa etária entre 40 e 49 anos, seguidos de 27% entre 30 e 39 anos. Entre os 100 profissionais infectados com a Covid-19, 62% são auxiliares ou técnicos de enfermagem, 13% são médicos, sendo que 1% são residentes, 11% enfermeiros, 6% técnicos em higienização, 2% da nutrição, 1% fisioterapeutas, 1% auxiliares administrativos e 4% de outras categorias. 8% necessitaram de hospitalização e 4% necessitaram cuidados de UTI e houve 1 óbito.
O padrão de alta transmissibilidade e letalidade, com registro de maior detecção comparado aos demais tipos de vírus respiratórios, demonstra o elevado risco da infecção para a comunidade, para os profissionais de saúde e para o Sistema Único de Saúde.